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Quais os maiores desafios da transição ecológica em 2023? Conheça a opinião de especialistas!

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Os últimos anos foram, sem dúvida, desafiadores e colocaram à prova a resiliência de todos no que toca às questões ambientais. Neste sentido, a Essência do Ambiente quis juntar a opinião de alguns especialistas de diferentes setores sobre os maiores desafios para uma transição ecológica em 2023 e o que está ou vai ser desenvolvido para dar resposta a uma verdadeira transição sustentável.

OS MAIORES DESAFIOS AMBIENTAIS PARA 2023

«Exige-se que a Comunicação seja exemplo de boas práticas (…) Preocupa-me a mentira do “verde”» – Isabel Martins, Diretora Geral da Essência – Comunicação Completa

Para Isabel Martins, Diretora Geral da Essência – Comunicação Completa, “2023 será marcado também pelo desafio que é a transição ecológica para todos. Para os particulares e empresas é uma tarefa hercúlea que nos exigirá mudança de comportamentos e adoção de novos hábitos. Depois de um caminho de desenvolvimento que nos conduziu à “destruição” do nosso planeta, temos de agir. É inegável. Temos de mudar, independentemente da nossa área de atuação.”

Olhando em específico para a sua área de atuação, a mesma salienta a importância de serem implementadas boas práticas “exige-se que a Comunicação seja exemplo de boas práticas. Para além da responsabilidade de fazer “verde” impõe-se aos profissionais de comunicação a capacidade de sensibilizar os clientes para o fazerem também. Apresentando-lhes ideias passíveis de execução.”

No entanto, Isabel Martins não deixa de frisar que o verde deve ser “pragmático e evolutivo. Dar passos pequenos, consistentes e amigos do ambiente no quotidiano. Com a consciência de que é um processo, um caminho. Não sou defensora de medidas radicais ou fundamentalismos que sabemos que nunca podem ser implantados e que apenas servem de propaganda para uns e desculpa para outros não as implementarem. Também no “verde” impõe-se a verdade de ter noção do que implicam as mudanças, tanto quanto a noção dos prejuízos de nada fazermos. Preocupa-me a mentira do “verde”. A defesa da adoção de medidas que mais parecem uma tendência da moda do que práticas para implementar com a consciência dos diferentes graus de desenvolvimento que há no planeta. Fizemos a nossa revolução industrial e não me parece que tenha sido um retrocesso no desenvolvimento. Temos de ser capazes de Comunicar e Ajudar as outras partes do globo que a estão agora a fazer, mostrando-lhes que há novas formas de estar nesta nossa casa que é a Terra! Para que a transição ecológica não seja precisa, porque se parte desde logo dos conceitos e práticas de respeito pelo planeta. “

«Operar uma verdadeira transição ecológica no sector implica ir além da reciclagem. É necessário mudar o paradigma de consumo, alterar hábitos, promover comportamentos mais sustentáveis» – Pedro Nazareth, CEO do Electrão

Já a Electrão – Associação de Gestão de Resíduos , enquanto entidade gestora de três dos principais sistemas de recolha e reciclagem de resíduos: embalagens, pilhas e equipamentos elétricos usados, considera que o setor dos resíduos é um pilar importante na estratégia de descarbonização, no horizonte 2050.

Segundo Pedro Nazareth, CEO do Electrão, “reciclar mais, desviando cada vez maiores quantidades de aterro, é também contribuir para diminuir as emissões de gases com efeitos de estufa e travar o fenómeno das alterações climáticas”. Para o CEO, proteger a saúde e o ambiente parte do “contributo para aumentar as taxas nacionais de preparação para reciclagem e reutilização de embalagens, pilhas e equipamentos elétricos usados. Este são três dos resíduos mais produzidos nas casas e nas empresas, mas a breve trecho os desafios vão intensificar-se e será necessário separar outros materiais para reciclagem, como têxteis ou bioresíduos.”

“As metas são ambiciosas e só uma atuação concertada entre todos permitirá atingi-las. A tecnologia por si só não resolve o problema e é necessário contar com a energia de todos. Mas operar uma verdadeira transição ecológica no sector implica ir além da reciclagem. É necessário mudar o paradigma de consumo, alterar hábitos, promover comportamentos mais sustentáveis. Este é um esforço transversal que exige o envolvimento de todos, a começar nos cidadãos e a acabar nas empresas, sem esquecer a administração.”, salienta o CEO do Electrão.

“Face ao desafio societal que enfrentamos esta mudança urgente deveria constituir um verdadeiro desígnio nacional e um compromisso envolvendo todas as camadas da sociedade.”, foi com esta a mensagem que o CEO do Electrão quis rematar a sua opinião no que diz respeito aos maiores desafios para a transição ecológica do setor para 2023.

«No combate a estes problemas é necessária a intervenção de todos. Afinal, quem é “a economia”? Somos todos nós.”» Susana Almeida da Silva, Docente da Faculdade de Economia da Universidade do Porto

De acordo com Susana Almeida da Silva, Docente da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, “as alterações climáticas e os problemas ambientais têm sido debatidos há várias décadas. No entanto, mais recentemente, os seus efeitos começam a ser devastadores e inegáveis. No combate a estes problemas é necessária a intervenção de todos. Afinal, quem é “a economia”? Somos todos nós.”

“Os comportamentos de cada um de nós serão determinantes para a necessária sustentabilidade do planeta. E a mudança de comportamentos começa pelo ensino, pela formação de mentalidades que, geração após geração, vai moldando a sociedade. Já muito se fala de sustentabilidade no ensino para as camadas mais jovens. Hoje todas as crianças sabem a importância de reciclar ou de poupar água e energia. Mas o que dizer relativamente à formação dos jovens adultos nos seus cursos superiores? Aqui há ainda algum caminho a percorrer. Não é fácil incluir os conceitos de sustentabilidade nos modelos basilares e clássicos da economia.”, acrescenta.

Para a Docente, todas as disciplinas, transversalmente, têm, hoje, que refletir esta realidade inegável. “Os recursos naturais são escassos e devem, por isso, ser usados com máxima eficiência” reforça. Acrescentando, “um dos grandes desafios será conciliar esta necessidade de poupança de recursos com o conceito de que o crescimento económico é sempre necessário e desejável. Para essa conciliação a incorporação dos conceitos de economia circular é fundamental. Estou otimista de que, apesar das dificuldades, este caminho será bem-sucedido.”

 « É contraproducente avançarmos com metas impossíveis de atingir. Os cidadãos têm de estar preparados, empenhados e envolvidos. Para isso, há que falar-lhes verdade » – Eurodeputado José Manuel Fernandes

Para o Eurodeputado José Manuel Fernandes “o combate às alterações climáticas é uma emergência que exige ação imediata e coordenação à escala global. A demora implicará – sempre – mais dificuldades, maiores custos ambientais e sociais. Esta ação rápida e ambiciosa tem de ser simultaneamente gradual e realista.”

Salientando que “é contraproducente avançarmos com metas impossíveis de atingir. Os cidadãos têm de estar preparados, empenhados e envolvidos. Para isso, há que falar-lhes verdade. Os preços da energia já estavam a aumentar antes da guerra iniciada pela Rússia. O pacto ecológico, a lei do clima e o respetivo objetivo da redução das emissões de carbono em 55% até 2030 (objetivo 55) e da neutralidade carbónica até 2050 trazem aumento dos preços e desafios para os quais temos de nos preparar. Por isso, insisto no gradualismo. “

O Eurodeputado destaca que esta transição “implica a existência e disponibilidade de alternativas, por exemplo, para a substituição de matérias-primas. Exige-se um forte investimento na investigação e na inovação, assim como a criação de fundos que apoiem os cidadãos mais vulneráveis. Há empregos que vão desaparecer, novos que vão surgir, o que exige que se avance para o reforço das competências dos trabalhadores.”

José Manuel Fernandes não deixa de salientar, ainda, que “no Parlamento Europeu e no Conselho concordamos com o “objetivo 55” e a neutralidade carbónica até 2050. Mas – ainda – não há acordo quanto ao caminho e velocidade a seguir. Eu defendo o gradualismo e a ambição realista.”

Diferentes olhares, diferentes perspetivas, uma certeza comum: ainda existe um longo caminho a percorrer para uma transição ecológica verdadeiramente sustentável. Um caminho que só é possível ser feito com sucesso com a colaboração de todos – cidadãos, empresas e instituições. Somos nós os agentes de mudança e só com o esforço coletivo é que conseguimos fazer a diferença para alcançar um futuro verdadeiramente sustentável, consciente e promissor para todos.

Nota: os artigos publicados na secção opinião são da inteira responsabilidade dos seus autores