Um estudo divulgado pela Federação Europeia de Transportes e Ambiente (T&E) demonstra que 25% dos transportes marítimos na Europa serão movidos a gás natural fóssil até 2030. Um combustível que se irá manter durante décadas e que traz poucos benefícios a nível climático.
Segundo a T&E, uma organização não governamental de defesa de políticas sustentáveis para o setor dos transportes, a utilização do gás fóssil é “fruto de débeis metas de sustentabilidade da União Europeia (UE) que encorajam uma maior utilização de metano”.
Em declarações à Organização Não Governativa ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável, a T&E refere que “o transporte marítimo se encontra entre os maiores poluidores do mundo, permanecendo altamente dependente de combustíveis fósseis”.
Um facto confirmado no relatório ambiental publicado pela Agência Europeia do Ambiente e pela Agência Europeia da Segurança Marítima, onde é salientado que o transporte marítimo é dos maiores poluidores do mundo, indicando que os navios produzem 13,5 % de todas as emissões de gases com efeito de estufa dos transportes na UE.
A utilização de metano, um poluente perigoso do ar e gás de efeito de estufa, não é visto a bons olhos pela T&E, que no comunicado divulgado pela Zero, membro da Federação Europeia de Transportes e Ambiente, refere que “A velha narrativa do gás como combustível de transição já não é sustentável – já não podemos simplesmente mudar de um combustível fóssil para outro, pois isto não nos levará a atingir zero emissões líquidas até 2050; ao colocarmos mais metano na atmosfera, estamos a aquecer dramaticamente o planeta”.
UNIÃO EUROPEIA CONTRADIZ-SE NA UTILIZAÇÃO DE COMBUSTÍVEIS SUSTENTÁVEIS
Na comunicação feita pela ZERO, é recordado que a proposta da Comissão Europeia integrada no pacote legislativo Objetivo 55 – meta da UE que pretende reduzir as emissões líquidas de gases com efeito de estufa em, pelo menos, 55 % até 2030 – é requerido que os operadores de navios reduzam a pegada carbónica dos combustíveis navais, através do abandono gradual do fuelóleo, impulsionando a utilização de combustíveis sustentáveis.
No entanto, a organização não governamental acrescenta que “a UE encoraja a que este tipo de transporte seja substituído por navios movidos a gás fóssil”, uma vez que, segundo o estudo da T&E “o gás fóssil deverá constituir 23% do total de energia utilizada nos transportes marítimos na UE até 2030, mais 6% do que atualmente, com custos mais baixos que as alternativas verdadeiramente limpas, mas com muitas emissões associadas”.
COMBUSTÍVEIS À BASE DE HIDROGÉNIO COMO ALTERNATIVA
A proposta da Comissão Europeia, tal como está, não incentiva que os navios utilizem alternativas sustentáveis como o hidrogénio verde ou combustíveis baseados em hidrogénio.
Em conclusão do estudo, a T&E recomenda a definição de uma meta de 6% para combustíveis sintéticos navais até 2030 e incentiva os decisores políticos da UE a introduzirem quotas e incentivos para impulsionar a procura por combustíveis à base de hidrogénio, para que seja possível “um transporte marítimo limpo no futuro, o que é incompatível com continuar a desperdiçar tempo precioso em gás fóssil”.
A ZERO sugere que, em Portugal, não sejam feitos investimentos em abastecimento em gás natural liquefeito, uma vez que o mesmo irá representar o oposto da descarbonização.
É importante que a procura de soluções e alternativas mais limpas para os combustíveis não sustentáveis seja apoiada pelos órgãos governamentais para que consigamos rapidamente atingir as metas definidas na Agenda de 2030 e ir de encontro a um planeta mais verde, conseguindo assim um desenvolvimento sustentável, de consumo responsável e de inovação.