A educação ambiental é, inquestionavelmente, um dos pilares fundamentais para garantir que as próximas gerações têm um futuro seguro e sustentável. No entanto, a sua implementação no sistema educativo português enfrenta desafios que vão além das boas intenções. Num mundo onde as transições digital e climática são imperativos incontornáveis, importa refletir sobre os prós e os contras de integrar a sustentabilidade no quotidiano das salas de aula.
A NECESSIDADE INEQUÍVOCA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Portugal tem assistido a um aumento da consciencialização ambiental, impulsionado por movimentos juvenis e iniciativas governamentais que promovem a sustentabilidade. No entanto, a educação ambiental ainda não ocupa o espaço que merece nos currículos escolares, sendo frequentemente tratada de forma superficial e pontual.
A integração da educação ambiental como disciplina transversal e multidisciplinar pode capacitar as novas gerações com ferramentas para enfrentar os desafios ambientais. No entanto, a sobrecarga curricular e a falta de preparação dos professores são barreiras reais que dificultam a sua aplicação eficaz.
ENTRE A BOA INTENÇÃO E A REALIDADE
Se, por um lado, a educação ambiental pretende sensibilizar, por outro, existe o perigo do excesso de informação negativista a que ficamos expostos. O alarmismo ambiental pode gerar a chamada “ansiedade ecológica” em crianças e jovens, levando a uma perceção fatalista do futuro.
As escolas podem mitigar o alarmismo ambiental adotando abordagens pedagógicas equilibradas, que combinem informações objetivas e soluções práticas, envolvendo os alunos em projetos de impacto positivo e incentivando uma visão proativa e construtiva em relação ao ambiente. No entanto, a preocupação de pais e educadores é legítima: como equilibrar a necessidade de informar sem criar um cenário de medo constante?
Os professores, muitas vezes, sentem que não estão preparados para abordar questões tão complexas, correndo o risco de cair em discursos polarizadores ou em debates influenciados politicamente. Os pais, por sua vez, enfrentam o desafio de conciliar as suas próprias preocupações ambientais com a necessidade de proteger os filhos de informações que podem gerar ansiedade e desmotivação.
Além disso, a crescente exposição a informações contraditórias nas redes sociais cria um desafio adicional: como distinguir factos de opiniões? A falta de literacia ambiental, em especial entre o público jovem, torna-os vulneráveis ao greenwashing, uma prática na qual empresas/instituições/marcas promovem uma imagem ecologicamente responsável apenas para atrair consumidores, sem realmente adotarem políticas sustentáveis reais e mensuráveis.
EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UNINDO O DIGITAL E A NATUREZA
Acredito que a transição digital pode ser uma aliada da educação ambiental, proporcionando ferramentas interativas e acessíveis para complementar a aprendizagem prática em contexto real. A verdadeira eficácia reside na conjugação entre o digital, que oferece uma visão globalizada e informada das questões ambientais, e a experimentação direta na natureza, que permite um envolvimento sensorial e emocional indispensável para uma compreensão profunda. Plataformas de e-learning, jogos educativos e simulações de cenários ambientais podem transformar a aprendizagem em experiências significativas.
Contudo, a dependência excessiva do digital levanta preocupações, levando alguns países, como a Suécia e a França, a reverter a introdução massiva de tecnologia nas salas de aula, optando por um regresso gradual a métodos tradicionais que privilegiam a aprendizagem presencial e a interação com o ambiente natural. A chave está em encontrar um equilíbrio, onde a tecnologia sirva como complemento, sem substituir a aprendizagem prática e o contacto com a natureza, essenciais para uma ligação genuína entre o ser humano e o planeta. A desigualdade no acesso à tecnologia e o risco de superficialidade no tratamento dos temas ambientais, também, são preocupações a ter em conta. Nem todas as escolas estão preparadas para esta dupla transição, o que pode agravar as disparidades entre os alunos.
O CAMINHO PARA UMA EDUCAÇÃO AMBIENTAL EFICAZ
Promover uma educação ambiental eficaz requer um compromisso conjunto entre escolas, famílias, sociedade civil e o setor empresarial.
A colaboração entre entidades públicas e privadas permite criar programas de educação ambiental mais abrangentes e sustentáveis, proporcionando recursos, ferramentas inovadoras e oportunidades de aprendizagem prática. As parcerias com empresas ambientalmente responsáveis podem trazer investimento e conhecimento especializado, enquanto o setor público assegura a implementação equitativa e alinhada com os objetivos educativos nacionais.
Devemos investir fortemente na formação docente, proporcionar experiências práticas enriquecedoras às crianças e construir narrativas inspiradoras que promovam a ação em vez de fomentar o medo.
A educação ambiental não deve ser vista apenas como uma resposta à crise climática, mas como uma oportunidade para formar cidadãos mais conscientes, críticos e capacitados para tomar decisões informadas, garantindo assim um futuro.
Entre desafios e oportunidades, a educação ambiental deve ser implementada de forma estratégica, qualificada e sensata, garantindo que as gerações presentes e futuras estarão preparadas para serem agentes de mudança positivos e não apenas espectadores de um mundo em transformação.
Teresa Juncal Pires – Diretora da Essência do Ambiente

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