No coração de Lisboa, um pequeno estúdio de tatuagem está a redefinir a relação entre arte corporal e sustentabilidade. Localizado em Campo de Ourique, o Jardim Ecotattoo propõe uma abordagem inovadora, onde cada detalhe é cuidadosamente pensado para minimizar o impacto ambiental do processo de tatuagem.
O estúdio nasceu em 2023 pelas mãos da tatuadora e ilustradora Letícia Heger, mais conhecida como Lelê. Desde cedo, a artista manifestou preocupação com a quantidade de resíduos gerados durante as sessões de tatuagem e procurou alternativas que permitissem um equilíbrio entre segurança, qualidade e respeito pelo ambiente. Dessa vontade resultou um espaço onde os materiais descartáveis convencionais foram substituídos por opções biodegradáveis e compostáveis, como plásticos de origem vegetal produzidos a partir de amido de milho e trigo. Até mesmo os cartuchos das agulhas seguem este princípio.
RELAÇÃO COM A SUSTENTABILIDADE
O compromisso com a sustentabilidade reflete-se também na seleção de produtos utilizados ao longo do processo. As tintas são veganas, livres de ingredientes de origem animal e não testadas em animais, enquanto os líquidos de limpeza e bálsamos são escolhidos com base na sua composição orgânica e produção responsável. Grande parte destes materiais tem origem em Espanha, privilegiando cadeias de abastecimento locais para reduzir a pegada carbónica associada ao seu transporte.
Para além da vertente ambiental, o Jardim Ecotattoo distingue-se também pela atmosfera acolhedora que proporciona aos seus clientes. O espaço, decorado com plantas, ilustrações botânicas e mobiliário vintage, foi pensado para garantir uma experiência intimista e confortável. Este conceito estende-se ao estilo das tatuagens de Lelê, marcado por linhas finas, traços leves e uma temática frequentemente inspirada na natureza. Flores, folhas e ramos são elementos recorrentes, mas a artista também se dedica à criação de retratos personalizados, capturando memórias e emoções dos seus clientes em pequenos detalhes gravados na pele.
Num setor onde o uso de materiais descartáveis é um desafio incontornável, o Jardim Ecotattoo demonstra que é possível reduzir significativamente o impacto ambiental das tatuagens sem comprometer a segurança ou a qualidade do trabalho. Para Lelê, esta abordagem é uma extensão natural da sua arte e da sua visão de mundo. “As tatuagens são para sempre, mas o desperdício gerado não tem de ser”, afirma, reforçando o compromisso do estúdio com uma prática mais consciente e responsável.
O Jardim Ecotattoo surge assim como um exemplo de como pequenas mudanças podem fazer uma diferença significativa. Num mundo onde a sustentabilidade se torna cada vez mais uma necessidade, iniciativas como esta mostram que a criatividade e a responsabilidade ambiental podem andar de mãos dadas, inspirando novos caminhos para a arte e para o consumo consciente.