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A Energia e a racionalização do seu consumo

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Em artigo de opinião recente, sugeri como caminho para a resolução dos problemas o que me parecia ser o mais básico dos princípios não enunciados: “Quando não se tem a solução imediata para um problema, a primeira coisa a fazer é procurar reduzir o tamanho do problema”.

Se o problema é o custo da energia e a dependência energética, então a primeira coisa a fazer é adotar medidas para reduzir o consumo de energia e, se a esmagadora quantidade dessa energia é utilizada na Indústria, de cuja existência e atividade depende, não esqueçamos, a possibilidade de evoluirmos para um modelo económico sustentável, é na análise energética dos processos industriais que devemos concentrar a nossa atenção.

Na generalidade dos equipamentos e processos industriais em que se utiliza um combustível para produzir calor, uma parte significativa da energia fornecida ao sistema é perdida sob a forma de gases de exaustão.

Quando a transferência de calor para o produto atinge o seu limite prático de utilização, os gases de combustão são removidos da máquina ou do sistema através de condutas de exaustão ou de uma chaminé, contendo, ainda, uma considerável quantidade de energia térmica.

Mas, sem perder de vista o princípio, qual é a dimensão do problema?

– De um tamanho que poucos suspeitam!

A quantidade de energia perdida nos efluentes gasosos constitui o principal potencial de perdas nas transformações de energia operadas em ambiente industrial e, por isso, e apesar da desindustrialização ocorrida nos últimos 40-50 anos, constitui no país um problema cuja dimensão temos que reduzir.

A título de exemplo, pode dizer-se que quando se lançam na atmosfera gases a 400 ºC, por vezes resultantes de processos de combustão com exorbitantes excessos de ar, podemos estar a lançar fora cerca de 30% da energia fornecida ao processo. E, no mesmo exemplo, se considerarmos que uma redução da temperatura desses gases para os 110 ºC permitiria recuperar cerca de 75% da energia antes perdida, vemos qual a importância que assumem por vezes as perdas nos efluentes gasosos, e em que medida podemos intervir sobre os nossos consumos de energia pela implementação de sistemas de captura e uso da energia hoje perdida.

Indústrias como a Cerâmica, o Vidro e o Cimento, são flagrantes exemplos de aplicação, tornando inclusive possível a produção de energia elétrica em sistemas de Cogeração “Bottoming cycle”, mas enquanto em Portugal não se investe em projetos que poderiam produzir anualmente cerca 55 GW de eletricidade e evitar a emissão de 27 mil Toneladas de CO2, consumindo zero de combustível, na China não se imagina construir uma fábrica de cimento sem implementação da referida tecnologia, seja com vapor (SCR) ou fluído orgânico (ORC).

Acresce que pela sua dimensão, estas quantidades de energia térmica desperdiçada, para além da relevante importância na discussão das questões económicas e relativas à segurança de abastecimento energético, constituem pela sua interação direta ou reflexa com o universo que nos rodeia o principal agente com impacto sobre o ambiente e as condições de vida no planeta.

A procura e a implementação de sistemas de aproveitamento dessa energia é assim, para além de um ato coerente de gestão, uma responsabilidade cívica que não devemos alienar.

A utilização racional da energia deixou de ser uma mera questão técnica e económica para passar a ser um desígnio humano.

José Guedes, CEO e Fundador da Energest