O Politécnico de Leiria, em parceria com o INESC TEC, desenvolveu um sistema inteligente e inovador para prever, prevenir e apoiar o combate a incêndios florestais, recorrendo a drones em frota, gémeos digitais, inteligência artificial, realidade aumentada e monitorização em tempo real.
Designado DBoidS, o sistema foi apresentado publicamente no passado dia 26 de junho, durante uma demonstração prática na Lagoa da Ervedeira, em Leiria. O projeto é liderado pelo CIIC – Centro de Investigação em Informática e Comunicações do Politécnico de Leiria, e resulta de três anos de investigação aplicada ao território.
Do risco à ação: drones em equipa e decisões humanas
O DBoidS representa um salto tecnológico ao atuar também na fase de previsão, e não apenas na prevenção, combate e rescaldo, como a maioria das soluções existentes. Através de algoritmos preditivos e dados climáticos, o sistema identifica zonas críticas e mobiliza uma frota de drones com missões coordenadas em equipa, sob supervisão de um centro de operações.
“É aqui que está a grande diferença: em vez de um operador por drone, temos uma plataforma que gere várias aeronaves em simultâneo, com diferentes tarefas, a operar como uma verdadeira equipa no terreno”, explica António Pereira, investigador principal do projeto.
Os drones detetam movimentos suspeitos – como pessoas ou veículos – e transmitem imagens em direto para os operacionais, enriquecidas com realidade aumentada. A decisão de ativar alertas ou meios de resposta continua a caber aos humanos, sendo o sistema um apoio à decisão e não um substituto.
Inteligência para prever, agir e investigar
Em caso de ignição, o sistema é capaz de simular a propagação do fogo, identificando áreas em risco, velocidades de propagação e potenciais zonas de evacuação. Com base em dados históricos e cenários em tempo real, o DBoidS permite antecipar consequências e orientar os meios de forma mais eficaz.
“O sistema também permite registar e analisar todos os dados, incluindo imagens da ignição, facilitando o trabalho de investigação e responsabilização posterior”, acrescenta António Pereira.
O protótipo já está concluído e pode ser integrado com os sistemas da Proteção Civil e do SEPNA, facilitando a sua adoção por entidades oficiais. O investigador sublinha o caráter modular da solução, o que permite escalar e adaptar o sistema a diferentes contextos territoriais.
“Este projeto não termina com a investigação – é o início de uma nova fase. Estamos a transferir conhecimento para a sociedade, com impacto direto na proteção das florestas e das populações”, reforça António Pereira.
Para o presidente do Politécnico de Leiria, Carlos Rabadão, o DBoidS responde a um dos grandes desafios estruturais do país.
“Portugal continua vulnerável aos fogos florestais, e é urgente uma abordagem integrada, onde a ciência, os municípios, o Estado, os proprietários e a sociedade civil atuem em conjunto. Soluções como o DBoidS demonstram como a investigação pode gerar impacto real, ajudando a reduzir o risco e os efeitos devastadores dos incêndios.”