A descarbonização da indústria da moda e do luxo deixou de ser opcional e tornou-se uma necessidade crítica para a próxima década. Um relatório da Bain & Company revela que o setor é responsável por cerca de 2% das emissões globais, mas apenas 11% do seu valor de mercado está no caminho certo para cumprir as metas climáticas de 2030.
Para identificar as oportunidades e os custos de redução de emissões, a Bain utilizou uma curva de custo marginal de redução (MACC), analisando separadamente o retalho de moda e o setor de luxo.
Segundo João Valadares, partner da Bain & Company, a descarbonização deve ser tratada como “uma disciplina empresarial integrada no fornecimento, na cadeia de abastecimento, na gestão de inventário e na estratégia de produto”. No curto prazo, a Inteligência Artificial (IA) pode melhorar a previsão da procura e reduzir devoluções no comércio eletrónico — áreas onde a ineficiência aumenta emissões e diminui margens.
Fornecimento e mudança de práticas
O relatório aponta o fornecimento como uma alavanca crítica para reduzir emissões. A adoção de materiais reciclados é um passo inicial, mas a maior oportunidade está em influenciar os fornecedores a adotarem métodos de fabrico com menor pegada carbónica.
No setor de luxo, características como durabilidade e menor impacto por uso já fazem parte do modelo de negócio, mas há espaço para melhorias. Reduzir a sobreprodução e incentivar a revenda são medidas prioritárias. A IA pode apoiar este processo, ajudando a otimizar a produção e a gestão de inventário.
O estudo destaca que o mercado de artigos em segunda mão tem potencial de descarbonização, mas ainda apresenta ROI negativo para muitas marcas, já que grande parte das vendas ocorre em plataformas terceirizadas. Para ultrapassar este obstáculo, as marcas devem criar canais próprios e rentáveis para a revenda, de forma a prolongar a vida útil dos produtos e reduzir a produção de novos artigos.
O relatório da Bain & Company deixa claro que a transição para um setor da moda e do luxo mais sustentável exige ação coordenada, inovação tecnológica e mudanças estruturais em toda a cadeia de valor. Integrar a descarbonização como parte central da estratégia empresarial, apostar na eficiência com recurso à IA e transformar a revenda num canal rentável são passos decisivos para que o setor não só cumpra as metas de 2030, mas também assegure a sua relevância num mercado cada vez mais orientado para a responsabilidade ambiental.

















