Reciclagem química de plásticos pode demorar até 30 anos a tornar-se competitiva, revela estudo da Bain & Company

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A reciclagem química pode vir a desempenhar um papel-chave na circularidade dos plásticos, mas ainda está longe de se tornar economicamente viável. De acordo com um novo estudo da Bain & Company, esta indústria já soma mais de 400 mil milhões de euros em investimentos acumulados (capex) e precisará de mais duas a três décadas para competir em custo com a produção de plásticos virgens na Europa.

Embora os compromissos ambientais se tornem cada vez mais exigentes, o estudo revela que a reciclagem química de poliolefinas — um dos plásticos mais comuns — ainda custa mais do dobro da produção virgem. Para atingir a paridade de custos, será necessário acumular um volume global de 650 milhões de toneladas métricas de poliolefinas recicladas através de pirólise, além de um esforço coordenado de regulação, inovação tecnológica e investimento.

“A questão já não é se a reciclagem química vai escalar, é quem estará na dianteira da cadeia de produção no momento-chave”, alerta Álvaro Pires, sócio da Bain & Company.

Investimento adicional de 270 mil milhões e apoio político são cruciais

A análise da Bain estima que será necessário um investimento adicional de cerca de 270 mil milhões de euros, para além dos 400 mil milhões já aplicados, para cobrir prémios de preço, incentivos regulatórios e investimentos em margem ao longo da cadeia de valor. O mercado atual não oferece, por si só, condições para essa transformação, uma vez que a procura continua altamente sensível ao preço.

Neste contexto, as políticas públicas podem desempenhar um papel determinante, tal como aconteceu com os combustíveis sustentáveis. O estudo propõe a criação de requisitos de mistura progressivos para materiais reciclados, com aumentos de 1 a 2% por ano, o que poderá garantir uma penetração de mais de 15% no mercado dos plásticos até 2040, com retornos positivos e risco controlado.

“Assim que a reciclagem química atingir larga escala, pode transitar de um modelo dependente de subsídios para um mercado impulsionado pela procura. Esse ponto de inflexão mudará por completo a lógica económica do setor”, sublinha Álvaro Pires.

Três caminhos estratégicos para liderar a transição

O estudo remete para três estratégias para que os produtores de plásticos se tornem líderes em reciclagem química.

Em primeiro lugar, as empresas precisam de cocriar proativamente oportunidades de compra em estreita colaboração com os parceiros da cadeia de valor, enquanto se posicionam para obter vantagens a longo-prazo. As empresas pioneiras podem obter fluxos de resíduos de qualidade superior e servir clientes de elevado valor, criando um ciclo virtuoso de escala e desempenho.

Depois, as empresas líderes devem colaborar ativamente com os reguladores nas ações políticas que são críticas para os seus negócios e ajudar a materializá-las. É igualmente importante reenquadrar o diálogo público e a perceção em torno do papel dos plásticos, realçando tanto os benefícios de desempenho como o potencial de sustentabilidade dos plásticos quando geridos de forma responsável.

Por último, os produtores devem estar dispostos a ser flexíveis e a reformular a sua forma de atuar. Os líderes experimentarão novos modelos de negócio, novas estratégias de abastecimento e parcerias não convencionais. Isto pode significar a celebração de acordos de compra de 10 anos com mecanismos de preços dinâmicos – o tipo de movimentos que podem ser invisíveis do exterior, mas que lançam as bases para uma vantagem futura.

A reciclagem química representa uma oportunidade decisiva para o futuro sustentável da indústria dos plásticos, mas a sua viabilidade económica exige uma visão de longo prazo, investimento robusto e políticas públicas consistentes. A janela de oportunidade está aberta, mas apenas os atores que souberem antecipar, colaborar e inovar conseguirão posicionar-se na linha da frente desta transformação estrutural. A paridade com os plásticos virgens poderá ainda demorar décadas, mas o caminho começa agora e será percorrido por quem estiver preparado para liderar.