Num contexto de apreensão quanto à evolução da situação da seca, em Portugal, mas também de preocupação face ao estado de conservação dos habitats naturais e seminaturais relacionados com as zonas húmidas, e perante perspetivas de degradação adicional pelo incremento da pressão humana ligada à utilização dos territórios, a ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável desenvolveu um ponto de situação sobre o estado dos habitats de zonas húmidas.
De acordo com a associação ambientalista, é importante realçar que Portugal possui apenas 1,8% do seu território ocupado por zonas húmidas e que apenas 31 sítios foram designados para integrar a Convenção de Ramsar, totalizando cerca de 132.487 hectares, ou seja, 79% do total das zonas húmidas existentes em Portugal.
Desta forma, a ZERO afirma que “ainda que estes habitats estejam protegidos por legislação, dados recentes comunicados pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas à Comissão Europeia mostram que 77% dos habitats relacionados com as zonas húmidas de Portugal e Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira se encontram degradados, sendo que das 53 representações de 22 habitats, pelas 5 regiões biogeográficas, 40 estão em estado de conservação desfavorável.”
GESTÃO DA SECA E A SUA RELAÇÃO COM AS ZONAS HÚMIDAS
Para fazer face a esta problemática, a ZERO alerta para os impactos negativos dos aproveitamentos hidráulicos no fluxo de serviços dos ecossistemas proporcionados pelas zonas húmidas e, em particular, pelos cursos de água.
Pelo que a drástica alteração dos regimes naturais afeta os caudais ecológicos, impedindo a continuidade dos habitats fluviais e o transporte de sedimentos até aos estuários e zonas costeiras, onde a chegada de água doce é essencial.
Além disso, a ZERO revela que “em contexto de seca, há também que ter em conta uma adequada gestão dos aquíferos, uma vez que a maior parte das zonas húmidas estão muito dependentes das massas de água subterrâneas”.
IMPORTÂNCIA DAS ZONAS HÚMIDAS
As zonas húmidas são reservatórios de biodiversidade, uma vez que abrigam milhares de espécies animais e vegetais e são autênticas infraestruturas ecológicas, fornecedoras de serviços de ecossistemas, nomeadamente com a regulação climática, a proteção costeira, de alimentos, assim como a maior parte da água que consumimos, em quantidade e em qualidade advém destas zonas.
Para além disso, as zonas húmidas e os aquíferos são decisivos na regulação do ciclo hidrológico. No caso das inundações, contêm e abrandam a força das águas através dos processos de infiltração, reduzindo a energia das cheias após os picos de precipitação.
É, assim, urgente a adoção de medidas concretas que protejam, restaurem e permitam gerir de forma sustentável estes ecossistemas, com o intuito de mitigar as diversas problemáticas ambientais associadas. É primordial aumentar a consciencialização pública sobre as zonas húmidas e a sua influência na água doce.