Na UE, o combate às alterações climáticas deveria ser uma transformação gradual e tranquila
Acredita-se que, desde a Revolução Industrial e o desenvolvimento acelerado da sociedade, os gases poluentes lançados na atmosfera, em virtude da queima de combustíveis fósseis e dos desmatamentos; o aumento populacional; a industrialização e a urbanização têm contribuído para o efeito de estufa e o aquecimento global. Há anos que ouvimos falar das consequências destas ações, algumas delas irreparáveis, mas agora estamos a senti-las e a vivenciá-las. Basta pensar no aumento da temperatura, que está a causar o degelo nas calotas polares, elevando o nível dos oceanos, originando furacões, ciclones, tornados e tantos outros fenómenos naturais, que temos vindo a assistir com mais frequência.
Neste momento, é urgente o ser humano investir em mudanças para preservar o mundo em que vive. Por vezes, simples ações, que não perturbam o nossos dia-a-dia, já fazem uma grande diferença para o planeta Terra. A maioria das pessoas já está sensibilizada para as atitudes a tomar, porém, não as praticam. Cito algumas: separar e reciclar o lixo, tomar banhos rápidos, fechar bem as torneiras, usar mais transportes públicos, desligar os aparelhos eletrónicos, adotar lâmpadas leds, entre muitas outras.
Na União Europeia, aprovámos um objetivo ambicioso: a redução das emissões de gases com efeito de estufa em 55% até 2030, em comparação com os níveis de 1990; e a neutralidade carbónica, em 2050.
A UE é responsável por apenas 8% das emissões à escala global. No entanto, ainda que a sua responsabilidade seja ínfima, tem a obrigação de ser líder, farol e exemplo à escala global. Cada um dos países e cada um de nós deve fazer a sua parte. No entanto, a UE tem de exigir reciprocidade. Para além de se exigir uma concorrência leal, não se pode permitir a fuga de carbono, ou seja, a deslocalização da nossa indústria para países terceiros, que têm normas menos ambiciosas nesta área. Assim sendo, é de saudar o mecanismo de ajustamento de carbono nas fronteiras, que vai taxar alguns produtos e matérias primas, que entram na UE vindos de países que não têm os exigentes standards ambientais europeus.
A solidariedade também implica sustentabilidade ambiental, económica e social. As gerações futuras merecem viver com qualidade de vida, num planeta que tem limites. Para atingirmos os objetivos climáticos, teremos árduos desafios a ultrapassar: há emprego que será destruído, o preço dos transportes, da energia e das matérias primas irá aumentar. Em contrapartida, teremos a criação de novos empregos e a necessidade de novas competências técnicas. A investigação, a inovação, a educação, as empresas, as universidades, os agricultores, todos sem exceção terão de estar juntos na execução de um plano comum.
Há que falar verdade aos cidadãos: não se atingem objetivos no curto prazo; não se conseguem carros elétricos ou a hidrogénio de um dia para o outro; não se podem fechar refinarias, sem haver a garantia de matérias primas alternativas; os aviões e os navios não terão repentinamente combustíveis “amigos” do ambiente; os edifícios não melhoram a sua eficiência energética no imediato; a implantação de um estratégia florestal e a criação de novos sumidouros de carbono demoram a ser concretizados…
Para além de se falar verdade, também há que atuar com transparência, para se evitar que, à boleia de objetivos climáticos, se façam jogadas e negócios nebulosos.
O desafio é enormíssimo: temos de atingir os objetivos climáticos mantendo, em simultâneo, a competitividade e a coesão territorial, económica e social da UE. A escolha do caminho a seguir é essencial para se vencer este desafio, embora saibamos que essa escolha dará origem a debates e tensões dentro de cada família política e, sobretudo, entre os 27 Estados-membros. Para que esta transição seja justa, exige-se planeamento, bom senso e gradualismo, pois as empresas e as famílias não aguentam mais impostos.
Temos grandes desafios e, na minha opinião, o desafio do equilíbrio será sempre o mais importante, uma vez que não podemos pensar que resolvendo o problema na Europa, ele se solucionará no Planeta. A verdade é que estamos todos ligados, e se uma região está a poluir, todos pagaremos por isso. Temos que ser solidários e ajudarmos uns aos outros a salvar o mundo, o nosso chão comum. Estamos todos implicados e somos todos chamados a agir.
No Parlamento Europeu, está-se a discutir um “puzzle” de regulamentos, com a atualização de diretivas e de novos fundos, denominado “Pacote Objetivo 55”. Porém, nada disto serve, se cada um de nós não colaborar a fazer a sua parte!
Carlos Alberto Cardoso, APA Parlamento Europeu.

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