Procurar
Close this search box.
Procurar
Os mais lidos

A resposta das empresas à urgência de um desenvolvimento sustentável

economia-circular-essencia-ambiente

Nunca é demais recordar como funcionam os ecossistemas naturais, os mais sustentáveis do planeta: um sistema natural saudável funciona em ciclos totalmente regenerativos em que os elementos como o carbono, o enxofre e o azoto estão permanentemente a ser reciclados. Como sugerem Paul Hawken, Amory Lovins e Hunter Lovins, se conseguíssemos traçar o historial do carbono, potássio, cálcio, fósforo e água do nosso corpo iríamos provavelmente descobrir que somos feitos de fragmentos elementares do Mar Negro, de uma espécie de peixe extinto, de uma montanha erodida e da respiração de Jesus e de Buda. Os sistemas naturais criaram sistemas altamente eficazes de transformar estruturas complexas como os organismos em novos nutrientes capazes de integrar novos organismos ou outras estruturas.

Os nossos sistemas económicos e industriais, contudo, têm ignorado constantemente este ciclo natural. Estamos continuamente a retirar da natureza capital natural de elevada qualidade sob a forma de petróleo, madeira, minerais, ou gás natural e a devolvê-lo sob a forma de emissões e resíduos, que não se reciclam naturalmente e, noutros casos, que se dispersam (tornando-se inúteis quer para os sistemas naturais quer para os sistemas artificializados, como as nossas economias).

Atualmente, a economia global consome por ano 100 mil milhões de toneladas de materiais para alimentar o nosso modo de vida (desigual, é preciso lembrar). No entanto, desta quantidade massiva de materiais, apenas 8,6% é reciclada e volta à economia. Tudo o resto é acumulado na economia e torna-se mais cedo ou mais tarde um resíduo, geralmente demasiado complexo para ser regenerado em nutrientes para o sistema natural.

Talvez possamos dizer que quando olhámos para a Terra a partir da lua em 1969, se tornou evidente, como nunca até aí, a noção dos limites do planeta. Cinquenta anos depois somos confrontados diariamente com esses limites (aquecimento global acelerado, diminuição da disponibilidade de recursos críticos, persistência e, em certos casos, aumento das desigualdades, pandemias).

Exigem-se respostas urgentes, e por vezes disruptivas, para orientarmos o desenvolvimento numa lógica de sustentabilidade. Por parte das empresas a resposta a este desafio é a economia circular.

O objetivo principal da economia circular é maximizar o tempo que os produtos, componentes e materiais são mantidos em uso. Idealmente, o que se pretende atingir é um ciclo ininterrupto que aproveita os potenciais de valor inexplorados na cadeia de valor tradicional. A extensão da vida útil dos produtos ou dos seus componentes é conseguida apostando na reutilização, reparação, restauro, remanufactura ou realocação (de partes, ou componentes, em novos produtos). Quando estas opções já não são possíveis ou rentáveis, os materiais incorporados nos produtos devem ser separados e reciclados para incorporar novos produtos.

As estratégias para pôr em prática nas empresas este novo modelo de economia são variadas e complementares e implicam ter um bom conhecimento do ciclo de vida dos produtos e respetivos impactos ambientais e, em consequência, conceber os processos de fabrico e os produtos segundo critérios ambientais, sem hipotecar a criação de valor. Há inúmeros exemplos de boas práticas nesta matéria, em Portugal e no mundo. O recentemente publicado Guia de boas práticas para a Economia Circular na Fileira Casa da APIMA, reporta alguns desses exemplos para aquele setor em específico.

Esta via é inevitável – para responder à escassez de recursos e garantir a sustentabilidade do planeta – e muitas empresas já demonstraram que é possível mudar. As que resistirem à mudança perderão vantagens competitivas e verão fortemente aumentados os seus custos com as matérias-primas e o uso insustentável dos recursos.

Em paralelo e do lado da procura de mercado, acontece uma mudança de mentalidade nas gerações mais novas, os futuros clientes das empresas, que se mostram mais atentos a uma visão integrada, entre economia, sociedade e planeta, manifestada em novas exigências nos seus critérios de compra.

Produtos reparáveis pelo utilizador, plataformas de partilha de equipamentos, produtos de elevada qualidade em segunda mão, aluguer de mobiliário e novas opções de mobilidade são algumas das tendências que exigem das empresas, repensar os seus modelos de negócio.

São tempos intensos, desafiantes e ao mesmo tempo criativos e harmoniosos, a requererem escolhas sustentáveis e circulares, para o bem das gerações atuais e futuras.

Samuel Niza – The Circular Choice

Manuela Ribeiro – The Circular Choice

Nota: os artigos publicados na secção opinião são da inteira responsabilidade dos seus autores.