Foi num encontro durante as XII Jornadas Pedagógicas da Associação Portuguesa de Educação Ambiental (ASPEA), em 2005, na Ericeira, Portugal, que foi fundada a Redeluso – RedeLusófona de Educação Ambiental, que reúne académicos, professores e sociedade civil dos países e comunidades lusófonas, com o objetivo de cooperar e fortalecer a educação ambiental nestes países. Angola, Brasil, Cabo Verde, Galiza, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste são os países integrantes.
No âmbito do compromisso da Rede Lusófona de Educação Ambiental com a construção de uma agenda de transformação de comportamentos para um mundo mais justo e sustentável, destaca-se um dos mais recentes momentos, que ocorreu no 7º Congresso de Educação Ambiental, que teve lugar em Maputo: a formalização da disponibilidade de Redeluso apoiar os governos da CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa em matéria de Educação Ambiental, que se dá na sequência de um dos processos de construção mais participados na CPLP e que envolveu perto de uma centena de cidadãos e especialistas das várias áreas e dos estados membros da CPLP, através de um documento orientador para a elaboração, implementação e revisão das estratégias nacionais de educação ambiental na CPLP.
Durante as XXX Jornadas Pedagógicas de Educação Ambiental da ASPEA, alguns membros da Redeluso, numa mesa-redonda que versou sobre a Educação Ambiental nos Países e Comunidades de Língua Portuguesa, apresentaram os contributos para o VIII Congresso Lusófono de Educação Ambiental. Marcos Sorrentino, Diretor do Departamento de Educação Ambiental e Cidadania do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima do Brasil iniciou a sua intervenção com a questão “porque é que continuamos a perder de goleada para a degradação ambiental?”. Reforçou que no 8º Congresso de Educação Ambiental a ser realizado em Manus, Brasil, em 2025, têm de ser compreendidas as causas e enfrentados os motivos da descontinuidade das políticas públicas de educação ambiental, de forma a enfrentar a degradação social e ambiental, sendo necessário encontrarmos mecanismos que permitam transformar valores, caminhado para mudanças culturais em prol do ambiente, com vista à cooperação de todos os agentes sociais. Deixou ainda o alerta de que em nenhuma das 28 Cimeiras sobre as alterações climáticas (COP) a educação ambiental foi tema de diálogo nas mesmas e na negociação entre os Estados.
Fernando Saldanha, membro fundador da Redeluso, Guiné-Bissau, partilhou o trabalho desenvolvido nas comunidades tradicionais do Arquipélago dos Bijagós em prol da educação ambiental, através da utilização da tradição e da cultura, por meios tradicionais como as danças e as esculturas, para passar mensagens à comunidade local sobre a necessidade de preservação da biodiversidade local.
Carlos Ramos, Presidente da ONG ASEJANA, Moçambique, trouxe o tema da educação ambiental na proteção da biodiverºsidade costeira, com o alerta para o risco de extinção de mangais em Moçambique devido à ação humana, apresentando o projeto PROBICO, que teve como objetivo a restauração deste ecossistema, promovendo a educação ambiental de base comunitária e institucional para a sua preservação e a restauração de 8 hectares de magal, que foi ultrapassada, tendo sido restaurados 139 hectares.
Karelia Costa, Diretora de Educação Ambiental do Ministério do Ambiente de Angola, abordou os desafios da estratégia nacional de educação ambiental de Angola, no contexto da transversalidade, que implica a envolvência de todas as estruturas do Estado no processo de educação ambiental a todas as políticas e programas sociais e económicos, e da ecocidadania, que envolve capacitar os vários atores para o fortalecimento da participação comunitária na resolução dos problemas ambientais locais. Destacou a importância dos 3 eixos estratégicos da educação ambiental angolana, nomeadamente, a cidadania ambiental, o consumo consciente e sustentável, e o saneamento ambiental. E, ainda, os vários atores que convergem no processo da educação ambiental, a administração e o Estado, com os Ministérios e órgãos tutelados, os governos provinciais e as administrações, a sociedade civil, com as ONG’s e instituições académicas/filantrópicas e, ainda, os empresários e agências internacionais.
Filomena Martins, Professora Associada do Departamento de Ambiente e Ordenamento da Universidade de Aveiro, Portugal, refletiu sobre o olhar e a compreensão da educação ambiental e desenvolvimento humano, perante os direitos fundamentais à água, segurança e soberania alimentar, destacando a Declaração Universal dos Direitos Humanos, na qual a educação está incluída. Neste âmbito, propôs uma releitura dos valores enunciados, sugerindo a inclusão da educação ambiental como direito fundamental.
Kylyan Pérez, membro da coordenação da Redeluso e pesquisador pós-doutoral na Universidade de Santiago de Compostela, Galiza, trouxe à reflexão a dimensão socioeducativa da agroecologia, como uma questão transversal à educação ambiental e ação local, como resposta à emergência e justiça climática, democracia e bem viver.
A Redeluso, ao promover a cooperação e o fortalecimento da educação ambiental nos países lusófonos, destaca-se como um pilar essencial para a transformação cultural e ambiental. Com iniciativas inovadoras e um compromisso fixo, os membros da rede continuam a enfrentar os desafios globais, a impulsionar mudanças significativas, e a construir um futuro mais justo e sustentável. Juntos, reforçando a importância da educação ambiental como um direito fundamental e uma ferramenta crucial para a preservação do nosso planeta.