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O que estamos a fazer para combater a poluição plástica?

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De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA), a humanidade produz cerca de 460 milhões de toneladas de plástico por ano e, se nada for feito, esse número triplicará até 2060.

Sabias que dois terços desse plástico se transformam rapidamente em resíduos, grande parte dos quais acaba por poluir a terra, o mar e o ar, entrando cada vez mais na cadeia alimentar humana. Então, o que podemos fazer para combater este problema? Ora, é aqui que entra em ação o Tratado Global dos Plásticos! Mas o que é que ele representa?

Esta resolução, que pretende acabar com a poluição plástica rumo a um instrumento internacional juridicamente vinculante, é um marco histórico no qual Estados Membros estão a negociar medidas que abordam todo o ciclo de vida do plástico, incluindo extração de matérias-primas, a sua produção, transporte, uso e correto encaminhamento para a reciclagem.

Em março de 2022, a Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEA 5.2) aprovou a criação do primeiro Tratado de Plásticos para combater a poluição plástica, um acordo internacional que deve ser negociado até ao final deste ano.

Mais recentemente, numa declaração conjunta, ministros dos 193 países membros da 6.ª Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEA-6) comprometeram-se, em Nairobi, no Quénia, em alcançar este ano um tratado internacional juridicamente vinculativo para combater a poluição por plástico.

No final do mês de abril, foi dado mais um passo: com o avanço nas negociações do rascunho do tratado, que se pretende concluir em novembro na Coreia do Sul.

O impacto dos plásticos mundialmente: na humanidade, nos ecossistemas e no ambiente em geral

O que nos diz a investigação!

Em média, cada pessoa ingere, aproximadamente, 5 gramas de plástico por semana, o equivalente a um cartão de crédito. Este é um alerta dado pela World Wide Fund for Nature (WWF) resultante do estudo desenvolvido por investigadores da Universidade de Newcastle, na Austrália, o – “How Much Microplastics Are We Ingesting?: Estimation of the Mass of Microplastics Ingested”. Assim, os investigadores trocaram gramas de plástico por objetos palpáveis verificando, assim, este feito.

Mas não é só na humanidade que esta problemática se impõe. De acordo com o estudo, divulgado na revista Environmental Pollution, “Systematic identification of microplastics in abyssal and hadal sediments of the Kuril Kamchatka trench”, a poluição plástica pode atuar no fundo do mar como uma armadilha para todas as espécies circundantes.

Todos os anos vão parar aos oceanos milhares de toneladas de lixo plástico, pelo que se torna difícil rastrear todo o ambiente marinho, uma vez que as forças do oceano degradam o plástico e transformam-no em pequenos fragmentos denominados de microplásticos.

Também um outro estudo, desenvolvido pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), o “Mare Plasticum: O Mediterrâneo”, revela que cerca de 94% do plástico que circula no mar mediterrâneo resulta de uma gestão e desperdício descontrolados. Egipto (74 mil toneladas/ano), Itália (34 mil toneladas/ano) e Turquia (24 mil toneladas/ano) são os países que mais depositam plástico no mar.

No entanto, por pessoa, no topo da lista está Montenegro e Albânia com 8Kg/ano e Bósnia-Herzegovina e Macedónia do Norte com 3 Kg/ano. Este desperdício resulta em grande parte de restos de pneus (53%) e têxteis (33%) que acabam por chegar ao mar e prejudicar a vida animal.

“Os desafios colocados pelos plásticos devem-se, em larga medida, ao facto dos nossos sistemas de produção e consumo não serem ambientalmente responsáveis. A pandemia de COVID-19 e as alterações climáticas amplificaram a atenção pública para a crise dos resíduos de plástico que enfrentamos”, é o que destaca Hans Bruyninckx, Diretor Executivo da AEA – European Environment Agency.

Apesar da ação sobre a forma como são descartados os plásticos no ambiente ter aumentado significativamente nos últimos anos há muitos outros tipos de impacto menos conhecidos, designadamente a contribuição para as alterações climáticas e os desafios relacionados com a pandemia de COVID-19, segundo o relatório da AEA intitulado de “Plastics, the circular economy and Europe′s environment — A priority for action”.

Desta forma, o relatório analisa a produção, o consumo e a comercialização dos plásticos, bem o seu impacto ambiental e climático ao longo do seu ciclo de vida e explora a transição para uma economia circular dos plásticos através de três vias que envolvem os decisores políticos, a indústria e os consumidores.

Assim, o relatório da AEA assinala três vias a seguir: a utilização mais inteligente dos plásticos, o reforço da sua circularidade e utilização de matérias-primas renováveis. Em conjunto, estas vias possibilitam um sistema ambientalmente responsável e socialmente justo e circular para os plásticos.

Além disso, uma redução drástica do plástico desnecessário, evitável e problemático é crucial para enfrentar a crise global de poluição, de acordo com uma análise abrangente divulgada pelo Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA).

Acelerar a transição para energias renováveis, eliminar subsídios e adotar abordagens circulares ajudará a reduzir os resíduos plásticos na escala necessária, de acordo com o relatório “Da Poluição à Solução: Uma Análise Global sobre Lixo Marinho e Poluição Plástica”.

O relatório mostra que a poluição plástica é uma ameaça crescente em todos os ecossistemas, de onde a poluição se origina até o mar. Revela também que, embora tenhamos o conhecimento, precisamos da vontade política e da ação urgente dos governos para enfrentar esta crise crescente.

Como combater esta problemática ambiental?

Recentemente, Jyoti Mathur-Filipp, Secretária Executiva, do Comité Intergovernamental de Negociação (INC), alertou que a poluição por plásticos tem um efeito devastador nos ecossistemas, no clima, na economia e na nossa saúde.

Segundo Jyoti, “os custos sociais e económicos da poluição por plásticos variam entre 300 e 600 bilhões de euros por ano, no entanto, a produção de plástico aumentou nos últimos 50 anos e espera-se que duplique nos próximos 20 anos, se nenhuma ação for tomada.”

Desta forma, o Tratado Global dos Plásticos servirá para melhorar a governança global dos plásticos, mas pode ser limitado, pois, de acordo com as organizações, os esforços para combater a poluição plástica ainda são extremamente descoordenados, prejudicados por lacunas de dados e focados em soluções a jusante, incluindo limpezas que consomem recursos significativos que seriam mais bem investidos em soluções políticas comprovadas, gestão de resíduos e infraestrutura de reciclagem.

Cabe a todos – cidadãos, empresas e instituições – reduzir a poluição plástica! Se, de acordo com a ONU – Organização das Nações Unidas, é possível fazer essa redução em 80%, até 2040, o esforço deve ser comum, caminhando em prol dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

Artigo desenvolvido no âmbito do projeto XQ – THE NEWS. Um projeto que explica o porquê das notícias aos jovens com a colaboração portuguesa da ASPEA – Associação Portuguesa de Educação Ambiental. Artigo original publicado aqui.

Notas:

Os artigos publicados na secção opinião são da inteira responsabilidade dos seus autores.