Um grupo de investigadores da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) está a estudar um novo processo para a recuperação de materiais ligados à indústria dos eletrónicos. Esta investigação decorre no âmbito da Agenda Microeletrónica do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), financiada com 30 milhões de euros.
Atualmente, o lixo eletrónico é um dos resíduos sólidos com uma elevada taxa de acumulação, chegando a quase 10 milhões de toneladas por ano na União Europeia, sendo que apenas cerca de 15 a 20% desses resíduos são reciclados. Em 2021, a produção estimada de Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrónicos (EEEW) foi de 55,2 milhões de toneladas, em todo o mundo.
Tendo em vista a resolução desta problemática, a equipa de investigadores da FCTUC está a desenvolver uma investigação ligada à tarefa “E-Waste Recycling to Foster a Circular and Sustainable Economy”, que pretende contribuir para a criação e definição de processos industriais relacionados com a economia circular e a reciclagem de produtos do setor da Microeletrónica. Este projeto tem como foco principal a recuperação e tratamento de dispositivos eletrónicos, para que as matérias-primas possam ser novamente incorporadas na cadeia de valor.
PROCESSO DE RECUPERAÇÃO DE MATERIAIS VALIOSOS NA INDÚSTRIA ELETRÓNICA
Paula Morais, docente da FCTUC e investigadora no Laboratório de Microbiologia do Centro de Engenharia Mecânica, Materiais e Processos (CEMMPRE), destaca que “a ideia é encontrar um processo combinado, químico e biológico, para a recuperação de metais críticos e de alto valor a partir de resíduos elétricos e eletrónicos de computador”.
“Para a criação deste processo, a metodologia aplicada terá por base um estudo de diagnóstico inicial para identificar e mapear o ecossistema português do setor da Microeletrónica e, posteriormente, o foco da investigação na FCTUC serão os processos microbiológicos e químicos de reciclagem de metais preciosos”, revela a investigadora.
Assim, “serão desenvolvidos processos de bio-lixiviação, a partir de resíduos gerados por parceiros industriais no projeto, bem como de bioacumulação seletiva de metais após tratamento químico dos resíduos. O sistema de recuperação de metais por ser misto (químico-biológico) é extremamente inovador”, assegura o grupo de Microbiologia. “Entre os materiais que se pretendem recuperar destacam-se os metais valiosos como ouro, platina e prata, e os metais críticos índio e gálio, a partir de computadores e equipamentos de telecomunicações em fim de vida”, conclui.
Este projeto teve início em janeiro de 2023 e, neste momento, o consórcio, que envolve 17 entidades, encontra-se ainda a trabalhar na clarificação dos fluxos de resíduos e na caracterização dos materiais que serão utilizados para criar este novo processo, bem como a definir a estratégia integrada entre os parceiros da FCTUC para fazer esta recuperação de metais.
Para além do CEMMPRE, estão envolvidos José António Paixão, do Centro de Física da Universidade de Coimbra (CFisUC), e também Licínio Ferreira, do Centro de Investigação em Engenharia dos Processos Químicos e dos Produtos da Floresta (CIEPQPF).