Uma investigação publicada na prestigiada revista Communications Earth & Environment revela que as pradarias marinhas podem beneficiar de adições antropogénicas de nutrientes, desde que estas sejam moderadas e os efluentes descarreguem em corpos de água bem misturados. O estudo desafia a visão tradicional de que todo o impacto humano é inevitavelmente negativo, abrindo novas perspetivas para a conservação marinha e gestão de efluentes.
Liderada pela unidade regional de investigação do MARE- Centro de Ciências do Mar e do Ambiente da Universidade NOVA, em colaboração com o IPMA, o IST (Portugal), o EURJ (Brasil), a Swansea University (Reino Unido) e o CIMAR (Costa Rica), a equipa de investigação desenvolveu e testou os indicadores dgrass e dalga para avaliar, de forma inovadora a Eficiência da Ocupação do Espaço por ervas marinhas e algas. Estas métricas, aplicadas em pradarias dos estuários do Tejo e Sado, bem como em ecossistemas marinhos no Reino Unido, Brasil e Costa Rica, permitiram avaliar com precisão o potencial de crescimento e o vigor das pradarias marinhas.
RESULTADOS SURPREENDENTES NOS ESTUÁRIOS DOS RIOS TEJO E SADO
“Os resultados do estudo revelaram que as pradarias marinhas do estuário do Tejo, localizadas junto à ETAR do Seixalinho e ao efluente da Ribeiralves, apresentaram das maiores eficiências de ocupação do espaço a nível mundial”, afirma Vasco Vieira, autor principal do estudo.
Segundo este investigador, “as pradarias marinhas podem beneficiar de adições antropogénicas de nutrientes, desde que estas adições sejam moderadas, não atingindo níveis tóxicos. Para tal é fundamental que os seus efluentes descarreguem para corpos de água bem misturados”.
Além de maiores eficiências da ocupação do espaço, o estudo também revelou maiores abundâncias de macrofauna bentónica naquelas pradarias – um aspeto fundamental na preservação da biodiversidade marinha – e maiores depósitos de carbono – um serviço fornecido por estes ecossistemas fundamental para o combate às alterações climáticas.
Os autores concluem que “estes resultados permitem conciliar a preservação das pradarias marinhas com a otimização da gestão dos efluentes urbanos, agrícolas, domésticos e industriais”, refutando a perspetiva dominante de que todo o impacto antropogénico é forçosamente negativo e que a preservação e restauro das pradarias marinhas exige o restabelecimento das condições pristinas.
CONSERVAÇÃO MARINHA: DESAFIOS E OPORTUNIDADES
Apesar dos resultados promissores, os autores alertam para a destruição de várias pradarias marinhas nos estuários do Tejo e Sado devido ao marisqueio intensivo. A investigação destaca a necessidade de equilibrar a conservação marinha com a gestão sustentável dos recursos, reconhecendo o potencial dos efluentes antropogénicos, desde que adequadamente tratados, como aliados na promoção da saúde dos ecossistemas marinhos.
Com a participação de seis investigadores do MARE, este estudo representa um avanço significativo na compreensão da ecologia das pradarias marinhas e na gestão de efluentes, abrindo caminho para estratégias de conservação inovadoras que conciliam o desenvolvimento humano com a proteção dos ecossistemas marinhos.