Os desafios ambientais exigem responsabilização e cooperação

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Um debate do ponto de vista das empresas e dos territórios sobre os desafios ambientais e as respostas para uma transição ecológica no horizonte 2030 (e 2050) foi o repto lançado na 2ª Conferência “Serei Mesmo Verde?”, que decorreu no passado dia 4 de novembro. A iniciativa integrou as comemorações do 13º aniversário da Essência – Comunicação Completa e assinalou os dois anos do seu projeto Essência do Ambiente – um blog noticioso dedicado aos temas do ambiente e da sustentabilidade que dá palco e voz a projetos e práticas sustentáveis.

O primeiro painel trouxe-nos uma perspetiva dos territórios e contou com as intervenções de Manoel Batista, Presidente da CIM Alto Minho e da Câmara Municipal de Melgaço, e de João Pedro Cruz, Vice-Presidente da Câmara Municipal de Mangualde, que deixaram uma mensagem clara: é fundamental investir em sinergias entre os territórios. Na sua intervenção, Manoel Batista partilhou o processo de certificação de Melgaço enquanto destino turístico sustentável, que só foi possível por existir todo um trabalho anterior de eficácia nas várias vertentes ambientais. “Sabemos que estamos a tratar o ambiente de uma forma muito séria. É um trabalho de qualidade, mas de muita exigência e rigor que o município assume diariamente. (…) A certificação ajuda-nos a perceber o trabalho feito, a incorporá-lo neste processo e, de forma exigente como tem sido até agora, ajuda-nos a sermos capazes de almejar outros horizontes e outros objetivos”, referiu, reforçando que “este trabalho representou iniciar um processo que exige uma constante atenção e superação de desafios para que todos os anos possamos ser capazes de superar o que já foi feito”. Por outro lado, com um olhar de um município tradicionalmente industrial, João Pedro Cruz partilhou os principais problemas existentes em Mangualde relacionados com a escassez de água e a emergência energética. Reforçando o investimento que tem sido levado a cabo, na última década, nomeadamente, em projetos relacionados com o tratamento de águas residuais, tratamento de água para consumo humano, reaproveitamento de águas residuais e como é possível, ainda, contribuir e projetar investimento para a circularidade da água, bem como as medidas e os investimentos efetuados na transição para energias verdes e limpas. “Hoje as agendas que têm de estar em cima da mesa são, obrigatoriamente, a água e a energia. E nós não podemos duvidar disso. São temas estrategicamente vitais para os territórios. Não só para a gestão dos Municípios, não só para a Administração Local, mas também para a Administração Central. O binómio água e energia tem de ser tratado nos assuntos políticos, sociais e económicos dos territórios” salientou.

O segundo painel trouxe-nos uma perspetiva empresarial e contou com as intervenções de José António Lopes, CEO do gabinete de arquitetura adquadratum arquitectos, Eugénia Teixeira, Diretora de Sustentabilidade e Circularidade da Valérius Hub e Joana Soto, bióloga dos Amigos da Montanha. Três áreas de atuação distintas, um desafio comum: a sustentabilidade integral (ambiental, económica e social), num quadro de integração e colaboração entre setores. José António Lopes abordou os desafios e a importância do desenvolvimento de projetos de arquitetura assentes em padrões de sustentabilidade, levando como exemplo o projeto de arquitetura da Unidade Industrial de Rio Maior – a primeira unidade industrial da Kerakoll, em Portugal, e salientando “a responsabilidade de se pôr mais um edifício no mundo”. Em causa não estão só os edifícios novos, mas também a forma como se abordam as estruturas já construídas. “O que tem de mudar é a atitude subjacente à edificação – seja reabilitação ou construção de raiz. Devemos passar a considerar os edifícios como uma assemblagem temporária de materiais, de tal forma concebido que se consiga desmontar o edifício e remontá-lo, reutilizando-o”, considerou. Na sua intervenção, deixou ainda o alerta de que “construímos mais do que precisamos e, nessa ótica, a reabilitação deve ser uma prioridade, desde que feita segundo os bons critérios e normas que estão subjacentes à criação de edifícios novos” porque, na verdade, “o edifício mais sustentável é aquele que não existe”. Já Eugénia Teixeira abordou a perspetiva empresarial tendo por base o desenvolvimento de projetos que minimizam o impacto da indústria da moda no ambiente, dando como exemplo o Centro de Reciclagem da Valérius como parte integrante da estratégia de circularidade do grupo: “Em primeiro lugar está a prevenção.  Depois é urgente reduzir resíduos, investir na reutilização e na inovação para a criação de novos produtos a partir dos resíduos industriais”. Salientou, ainda, a importância da “colaboração entre indústrias, para a minimização do desperdício. Cerca de 25% do reciclado não pode ser reutilizado na indústria têxtil, mas pode, por exemplo, ser usado no setor da construção. É urgente classificar todos os resíduos que se produzem dentro de uma fábrica, prologar-lhe o ciclo de vida e evitar a sua incineração e envio para aterro”. Outra das suas preocupações prende-se com o preço do gás: “embora já exista um grande investimento em energias alternativas não é suficiente para o consumo do setor” partilhou. Joana Soto destacou a emergência climática e a perda da biodiversidade como grandes desafios da humanidade. “Parece que estamos a trabalhar em cima do prejuízo, com ações para tentar mitigar o problema, quando deveríamos ter apostado na prevenção” salientou, recordando o recente relatório das ONU, a ser discutido no COP 27, sobre como estão os países e as nações a aplicar os ODS. “O que estivemos a fazer até agora não foi o suficiente. Estamos quase num ponto sem retorno e estamos na década da ação. Atuar é agora” disse, reforçando a importância da sensibilização e educação ambiental, em todas as idades, para que se dê uma mudança de paradigma de consumo assente “em consumir menos, mas com mais qualidade, mais transparência e mais consciência”.

A tarde terminou com a intervenção de Carlos Alberto Cardoso, APA no Parlamento Europeu, tendo por base a estratégia da União Europeia a este desafio global. “Na União Europeia, o combate às alterações climáticas deveria originar uma transformação gradual e tranquila. Vai ser uma revolução, dificultando a concretização das ações que possibilitem a realização das metas e objetivos climáticos a que nos comprometemos”, referiu.Consciente de que não é possível atingirmos os objetivos sem estarmos todos envolvidos considera que “a solidariedade implica sustentabilidade ambiental, económica e social. As gerações futuras merecem viver com qualidade de vida num planeta que tem limites. Para atingirmos os objetivos climáticos teremos árduos desafios a ultrapassar. Há emprego que será destruído, o preço dos transportes, da energia e matérias-primas vão aumentar. Em simultâneo, teremos novos empregos e a necessidade de novas competências técnicas. A investigação, a inovação, a educação, as empresas, as universidades, os agricultores, todos sem exceção terão de estar juntos na execução de um plano comum”, mas “há que atuar com transparência para se evitar que à boleia de objetivos climáticos que todos defendemos se façam jogadas e negócios nebulosos”.

Com a moderação da jornalista Emília Monteiro, a conferência, transmitida via live Streaming, decorreu no Espaço Earth – Espaço Ambiental do Rio, da Terra e do Homem, em Barcelos, e contou com a parceria dos Amigos da Montanha, da Zoom Out e da Pro.Comunicação.

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