O mais recente censo nacional do lobo-ibérico, divulgado pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), confirma um cenário preocupante: a espécie continua em declínio, com uma redução significativa da sua área de presença e do número de alcateias em Portugal.
Em comparação com o levantamento anterior (2002/2003), a área de presença confirmada do lobo-ibérico diminuiu 23% (de 20.400 km² para 16.000 km²), enquanto o número de alcateias sofreu uma redução de 8%. Este cenário é agravado pela fragmentação de habitats, escassez de presas naturais, perseguição direta, incêndios florestais e alterações climáticas, colocando a espécie, já classificada como “Em Perigo” no Livro Vermelho, em risco ainda maior.
O lobo-ibérico desempenha um papel crucial nos ecossistemas como predador de topo, ajudando a equilibrar populações de herbívoros e promovendo a saúde dos habitats. Contudo, os esforços para travar este declínio têm sido insuficientes, como destaca o relatório.
Uma decisão recente da Convenção de Berna, que diminui o estatuto de proteção do lobo a nível europeu, agrava ainda mais a situação. Esta alteração permite abates seletivos da espécie em alguns casos, embora Portugal tenha garantido que a legislação nacional continua a proteger o lobo-ibérico. Porém, há receios de que o país enfrente pressões para flexibilizar estas normas no futuro.
A publicação tardia dos dados do censo – após um atraso de um ano – também levanta questões sobre a transparência e o compromisso do Governo com a conservação da biodiversidade.
SOLUÇÕES PARA PROTEGER O LOBO-IBÉRICO
Para inverter esta tendência, é essencial uma resposta robusta e imediata. A ANP|WWF apela ao Governo para implementar medidas concretas, como:
- Proteção de habitats: Bloquear projetos de infraestruturas em áreas com alcateias conhecidas.
- Proibição de caça em áreas sensíveis: Especialmente em épocas de reprodução.
- Compensação por danos: Criar mecanismos mais ágeis e eficazes que valorizem a coexistência com o lobo.
- Valorização territorial: Envolver comunidades locais e destacar os benefícios económicos da presença do lobo.
- Prevenção de incêndios florestais: Focar-se em medidas que protejam habitats essenciais.
- Revisão do plano de ação: Convocar uma reunião de emergência para redefinir prioridades no Plano de Ação para a Conservação do Lobo-Ibérico.
PORQUÊ CONSERVAR O LOBO-IBÉRICO
Conservar o lobo-ibérico é mais do que salvar uma espécie. Trata-se de garantir a saúde dos ecossistemas, promover a coexistência entre comunidades humanas e a vida selvagem e honrar compromissos internacionais de Portugal na proteção da biodiversidade. Sem medidas urgentes e eficazes, este predador icónico pode desaparecer das paisagens portuguesas, deixando um vazio ecológico e cultural irreparável.