Nos últimos anos, os microplásticos tornaram-se uma preocupação crescente para a saúde humana. Presentes naquilo que bebemos, nos alimentos que comemos e até no ar que respiramos, estes poluentes invisíveis conseguem entrar no organismo e acumular-se nos tecidos.
Os microplásticos chegam à nossa comida de várias formas, muitas vezes sem nos apercebermos. Estas partículas minúsculas resultam da degradação de plásticos descartados como sacos, garrafas e embalagens, que acabam nos oceanos, rios e solos agrícolas.
O uso excessivo de plásticos levou a uma cultura descartável, resultando em quantidades crescentes de poluição ambiental que resiste à degradação completa.
No mar, estas partículas são ingeridas por peixes, mariscos e outros organismos aquáticos, entrando assim na cadeia alimentar. Já em terra, os microplásticos presentes em águas contaminadas ou até poeiras atmosféricas que podem depositar-se em frutas, vegetais e cereais. Além disso, a utilização de plásticos em embalagens e utensílios de cozinha pode transferir estas partículas diretamente para os alimentos, especialmente quando são aquecidos. Por isso, mesmo sem vermos, os microplásticos estão cada vez mais presentes na nossa alimentação diária.
Estudos recentes sugerem que os microplásticos podem atuar como disruptores endócrinos, afetando diretamente o sistema hormonal e, consequentemente, a fertilidade. Em modelos animais, já se observou impacto na qualidade dos óvulos, do esperma e alterações nos níveis hormonais. Embora ainda sejam necessárias mais investigações em humanos, os dados atuais alertam para a importância de reduzir a exposição ao plástico, não só por uma questão ambiental, mas também como medida de proteção da saúde reprodutiva.
Mais recentemente, os microplásticos já foram identificados, no tecido da placenta humana e nas fezes de fetos, o que mostra a exposição direta ao feto e levanta preocupações sobre as consequências para saúde a longo prazo das crianças.
Por fim, não podemos esquecer que uma alimentação equilibrada, rica em alimentos frescos e, se possível, biológicos, contribui para um melhor funcionamento hormonal, reduz inflamação e ajuda o organismo a eliminar mais facilmente estas substâncias.
Cuidar do ambiente à nossa volta é também cuidar do nosso corpo. E a alimentação está no centro dessa ligação. Ao escolhermos melhor o que comemos e consumimos, protegemos a fertilidade, hoje e no futuro.
Virgínia Marques
Nutricionista Especializada em Fertilidade e Gravidez
