Com o objetivo de se perceber como é que as bactérias infetam o nosso organismo, a investigação da Universidade de Coimbra (U.C) descobriu que a Rickettsia – uma bactéria responsável por doenças como a febre da carraça – consegue escapar ao nosso sistema imunitário. Esta descoberta da equipa de investigadores do Centro de Neurociências e Biologia Celular da U.C (CNC-UC) abre portas ao desenvolvimento de novas terapêuticas contra doenças infeciosas.
Atualmente, as alterações climáticas estão a favorecer os parasitas, pois o aumento da temperatura global permite que estes estejam ativos mais tempo durante o ano. Como consequência há uma maior dispersão geográfica de parasitas que podem transportar bactérias perigosas para a saúde humana.
Pedro Curto e Isaura Simões, Investigadores do CNC-UC, estudaram uma proteína presente na superfície da bactéria Rickettsia, a APRc. O investigador Pedro Curto revelou que “após a picada de uma carraça infetada, a Rickettsia entra na corrente sanguínea onde vai ser exposta a toda a maquinaria do nosso sistema imunitário. Neste ponto, a prioridade da bactéria será proteger-se e entrar a todo o custo nas nossas células, pois a sua sobrevivência e capacidade de infeção dependem disso”.
AS CARRAÇAS E A SUA LIGAÇÃO À FEBRE DA CARRAÇA
Ao contrário do que se possa pensar, as carraças não são as responsáveis pela febre da carraça, mas sim os microrganismos que podem estar no seu interior. A Rickettsia é uma das bactérias que podem ser encontradas em parasitas, como as carraças, as pulgas ou os piolhos e que podem ser transmitidas aos humanos através da sua picada.
Para Isaura Simões, Líder do Estudo, “os microrganismos infeciosos possuem diversos mecanismos de escape ao nosso sistema imunitário. Já suspeitávamos que a proteína APRc, presente na superfície de Rickettsia, tem um papel importante na evasão da bactéria, mas neste estudo descobrimos que, para além disso, também a protege, impedindo que o sistema imunitário a elimine.”
Este trabalho mostrou, desta forma, que a proteína APRc consegue ligar-se a anticorpos presentes na corrente sanguínea, impedindo o ataque do sistema imunitário e atuando como um escudo. Verificou-se, ainda, que a APRc oferece proteção extra à bactéria contra a atividade bactericida das proteínas presentes no soro.
Um estudo que contou com o financiamento do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER), através do programa COMPETE 2020 – Programa Operacional Competitividade e Internacionalização, e de fundos nacionais, através da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT).
Este é, sem dúvida, um passo importante da biologia e um contributo fundamental para o desenvolvimento de novas terapêuticas contra doenças infeciosas.